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      14/06/2012 | Marco Padilha, talento e cerimônia em harmonia

      Com a situação política e administrativa da cidade, agora, nos eixos, depois da mais grave crise da história de Campinas, trabalho é que não falta para a equipe do Cerimonial do Gabinete do Prefeito. Mas nem a papelada que abarrota a mesa é capaz de soterrar a expectativa de Marco Padilha em torno do dia 23 de novembro deste ano.

      É para quando está agendada a estreia mundial, com Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), de seu Concerto para violoncelo e orquestra. “Vou tentar honrar o compromisso que é ter nascido e viver na terra de Carlos Gomes”, resume Padilha, que concilia as carreiras de compositor de música erudita e de servidor público.

      Tanta expectativa não é propriamente coisa de principiante. Muito ao contrário, aliás. Considerado um dos mais destacados compositores clássicos de sua geração, Padilha, de 56 anos, é autor de, no mínimo, 50 obras, a maioria de repercussão internacional. Seu Concerto para viola e orquestra op. 13, por exemplo, tem causado efusivos comentários por parte de intérpretes, e a crítica é unânime em classificá-lo entre as mais importantes obras escritas para esse instrumento no século 20.

      O diferencial em relação à apresentação do dia 23 de novembro está no fato de que ela integrará uma fase inédita que a Osesp inaugurou no mês passado, baseada na função de “artista em residência”.

      A composição de Padilha será executada pelo violoncelista pernambucano Antonio Meneses. Dentro desse conceito, este solista passou a ter, na Osesp, função análoga à dos violinistas Frank Peter Zimmermann (com a Filarmônica de Nova York) e Anne-Sophie Mutter (com a Sinfônica de Londres).

      “Quando a Osesp me encomendou a composição, a inspiração brotou facilmente, pois eu sabia que estaria fazendo algo para um dos três maiores violoncelistas do mundo; e, no Brasil, seguramente, Meneses é um artista que figura ao lado de Nelson Freire”, elogia Padilha, que já teve o violoncelista como parceiro no ano passado. “Sem contar que a Osesp é a maior orquestra da América Latina”, complementa.

      Do outro lado, Meneses - que vem de um recital com o pianista José Feghali e uma interpretação de Antonin Dvorák (1841-1904), sob a regência de Marin Alsop – devolve: “Já estou com a partitura [da obra de Padilha] em mãos e acho que vai soar muito bem. Suas obras têm sempre algo a dizer, e isso é o mais importante para uma música”.

      'Nem como porteiro'

      A formação musical de Marco Padilha é respeitável. Iniciou os estudos de teoria musical, piano e iniciação à composição, com o pianista e compositor Orlando Fagnani, em Campinas. É formado em piano e matérias complementares pelo Conservatório Musical Carlos Gomes, também em Campinas. Em 1984, formou-se bacharel na primeira turma de composição da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

      Aprimorou-se em interpretação e estilo com a pianista brasileira Isabel Mourão. Burilou sua vocação de compositor estudando por oito anos com Almeida Prado, que foi aluno, em Paris, de Nadia Boulanger e Olivier Messiaen. Por isso, Padilha se considera herdeiro da tradição da música europeia.

      Claramente, um currículo à altura de um artista que, como ele próprio diz, se esforça cotidianamente para honrar a conterraneidade com Carlos Gomes. O que não se expressa apenas nos aspectos positivos: assim como o autor de O Guarani, Padilha amarga as dificuldades de sobrevivência como compositor erudito.

      No Brasil todo, mas particularmente na cidade. “Para instrumentistas, até que a situação melhorou um pouco, mas para quem se dedica só à composição, continua valendo o célebre desabafo de Carlos Gomes: 'Campinas não me quer nem pra bilheteiro de porta de teatro'”.

      Sendo assim, o jeito foi diversificar. Formado também em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Padilha exerce atividades múltiplas. Funcionário da Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural da Unicamp, integra atualmente a equipe do Cerimonial do Gabinete do prefeito de Campinas. E, como radialista, produz e apresenta o programa de música erudita Intermezzo, na Rádio Educativa FM de Campinas.

      'Vai pra casa, Padilha'

      Transitando com desenvoltura entre os estilos tradicional e moderno, Padilha utiliza as linguagens modal/tonal/serial com liberdade expressiva, salientando o aspecto formal. O compositor se destaca pelo lirismo e dramaticidade. Gosta de salientar o papel da intuição em suas composições: “No mais das vezes, a música vem pronta na minha cabeça. Depois, só mapeio no piano”.

      Uma característica, entretanto, longe de indicar a desobrigação de muito trabalho horas a fio. “Houve um período em que eu andava tão focado nas criações, que a Olga von Simson, que era do Centro de Memória da Unicamp, se inspirou num personagem de Jô Soares e vivia me provocando, na brincadeira, com o bordão 'Vai pra casa, Padilha!'”, lembra o músico, aos risos.

      Parceria de sucesso

      A audiência de novembro na Osesp não será a primeira vez em que a dobradinha de Padilha com o violoncelista pernambucano Antonio Meneses brindará o público com boa música clássica.

      Em 2005, o campineiro escreveu Invocatio nº 1 e nº 2, para violoncelo solo, por encomenda de Meneses, para preceder a Suíte para violoncelo solo nº 6 de J. S. Bach. Invocatio nº 1 ficou sendo a preferida de Meneses, sendo executada em primeira audição mundial em São Paulo, no Teatro Cultura Artística, e, posteriormente, na Sala da Americas Society, em New York.

      Em outubro de 2011, foi apresentada na Sala Concertgebouw, em Amsterdam. Invocatio nº 1, foi lançada em CD por Meneses.

      Já na última década do século passado, a carreira de Padilha começou a ser pontuada por sucessos. Em 1992, Mystagogós – Hommage à Olivier Messiaen Op. 14, foi escolhida pelo Conjunto de Música Nova de Zurique, entre obras de 60 compositores brasileiros, para encerrar a apresentação do grupo, durante o Festival Internacional da Suíça, dedicado naquele ano à cultura brasileira.

      L’Amour Oublié – Hommage à Paul Verlaine, encomendada pelo conjunto francês Les Sacqueboutiers, foi apresentada em 7 de outubro de 2010, em Toulouse, recebendo elogios da crítica especializada.

      Em 20 de agosto de 2011, Sinfonia concertante “Das vozes esquecidas”, para oboé, fagote, cordas e percussão foi apresentada pela Orquestra Sinfônica da USP (Osusp), com regência de Ligia Amadio, na Sala São Paulo.

      O catálogo de Padilha inclui composições para piano solo, viola solo, música de câmara, concertos, orquestra sinfônica e também para instrumentos de música antiga. Além da Osesp, as obras têm sido apresentadas pelas sinfônicas de Campinas, Municipal de São Paulo, Conjunto de Música Nova de Zurique e Les Sacqueboutiers de Toulouse.

      No time de intérpretes de Padilha, que conta com Antonio Meneses, também figuram Sônia Rubinsky, Nahim Marun, Rafael Altino, Roberto Duarte, Ailton Escobar, Roberto Tibiriçá, Roberto Farias, Karl Martin, Lutero Rodrigues, Ligia Amadio, entre outros. A obra do campineiro é editada pela Editora Irmãos Vitale, no Brasil, e pela TONOS Musik Verlag, na Alemanha.

      Serviço:

      Concerto para violoncelo e orquestra (encomenda Osesp, estreia mundial) – Marco Padilha

      23 de novembro de 2012 (sexta), às 21h.

      Solo: Antonio Meneses

      Regência: Giancarlo Guerreiro

      Bilheteria: Praça Júlio Prestes, 16, fone (11) 3223-3966 (das 10h às 18h, ou até o início do concerto).

      Ingresso rápido:

      venda online: www.ingressorapido.com.br

      Foto: Carlos Basan





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